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[Resenha] Quarto Mundo: Lendas do Universo DC – Jack Kirby vol. 1 (DC Comics / Panini Comics)

Sinopse da editora:

“Nenhum autor dos comics tem mais prestígio e respeito do que o “rei” Jack Kirby. e nenhuma criação do genial desenhista/roteirista é mais amada do que o Quarto Mundo! Um exercício de estilo e criatividade de tamanha relevância que influenciou absolutamente tudo o que veio depois nos quadrinhos de super-heróis!”

Ficha técnica:

  • Formato 17 x 26 cm
  • Capa cartão
  • Lombada quadrada
  • 176 páginas
  • Data de publicação: julho de 2019

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O Rei. É assim que é conhecido, no mundo dos quadrinhos, o lendário Jack Kirby. Não é à toa, pois o desenhista e escritor revolucionou os quadrinhos várias vezes, tanto na Marvel quanto na DC. Depois de trabalhar em diversos quadrinhos menos conhecidos e até em animações como Popeye, ele foi para a Timely Comics, que viria a se tornar Atlas Comics, e por fim Marvel Comics. Por lá, em 1941, ele criou nada menos que o Capitão América, em parceria com o escritor Joe Simon. Depois desse período, como a maioria dos jovens na época, ele foi convocado para a Segunda Guerra Mundial. Em campo, ele foi designado para avançar sozinho até as cidades que seriam invadidas, para produzir mapas e imagens de reconhecimento.

Com o fim da guerra ele voltou aos quadrinhos, trabalhando novamente com vários personagens menos conhecidos. Ele criou para a DC em 1957 a equipe dos Desafiadores do Desconhecido, um quarteto de aventureiros e exploradores que serviu de inspiração para que o próprio Kirby, em parceria com Stan Lee, criasse o embrião da Marvel moderna, o Quarteto Fantástico, em 1961. Durante a parceria, longeva e extremamente frutífera, os dois ainda criaram o Hulk, Thor, Homem de Ferro (reunidos mais tarde nos Vingadores, juntamente com a Vespa e o Homem-Formiga), os X-Men originais, os vilões Doutor Destino e Magneto, os Inumanos e o Pantera Negra, entre outros. Dos principais heróis da Marvel, apenas o Homem-Aranha não teve participação do Rei.

Após se desentender com a direção da Marvel, Kirby foi contratado com estardalhaço pela DC Comics. As capas dos quadrinhos em que ele trabalhava estampavam um “Kirby is here!” (“Kirby está aqui!”), e vendiam bem mais do que as outras. Foi nessa época, em 1970, que ele iniciou sua maior e mais clássica história, que se não é tão conhecida pelo público em geral, é reconhecida pelos fãs do gênero como uma das maiores obras de todos os tempos, se não a maior: o Quarto Mundo.

Trata-se de uma saga extensa e complexa, que conta a história dos Novos Deuses, habitantes dos planetas gêmeos Nova Gênese e Apokolips. Estes deuses modernos teriam surgido após a morte das mitologias antigas, como no Ragnarök nórdico. Nesta saga ele criou conceitos que continuam guiando a DC até hoje, além de personagens como o Darkseid, sem dúvida o principal vilão da editora. A ideia de Kirby era criar uma saga épica, que ao final fosse encadernada em poucos volumes e ficasse sempre disponível nas livrarias, a exemplo das obras de Tolkien. Este conceito só seria adotado pelas editoras de quadrinhos nos anos 1980, com Watchmen, e só ganharia força realmente a partir dos anos 2000. De volta para a Marvel, Kirby ainda criou os Eternos, com um conceito semelhante ao dos Novos Deuses, e que vão virar filme em breve.

Cuidado: alerta de spoiler!
Cuidado: alerta de spoiler!

A saga foi espalhada em várias edições de vários títulos, e a proposta da editora Panini é publicar tudo, em ordem cronológica. Este volume 1 inclui sete edições, e mostra apenas a introdução da saga.

Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 133 - outubro de 1970 - capa
Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 133 – outubro de 1970 – capa

Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 133 – outubro de 1970 – Jimmy conhece a Legião Jovem, os filhos de um grupo anterior com o mesmo nome, e viaja com eles até a Área Selvagem, uma região nos Estados Unidos onde se reúnem várias comunidades alternativas. Jimmy encontra-se primeiro com os Párias, que dominam a comunidade que vive no Hábitat, uma verdadeira cidade construída sobre as árvores. Ele se tornar líder do grupo ao nocautear seu antecessor. Enquanto isso, o Superman voa atrás do amigo, e acaba derrubado por uma arma que dispara um gás de kryptonita. Quando o Superman desperta, Jimmy conta a ele que foi até a Área Selvagem investigar os exploradores originais do local, os Cabeludos, mas eles são interrompidos pela passagem da Montanha do Julgamento, que mesmo a quilômetros de distância provoca tremores no Hábitat.


Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 134 - dezembro de 1970 - capa
Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 134 – dezembro de 1970 – capa

Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 134 – dezembro de 1970 – O Superman tenta impedir que Jimmy, a Legião Jovem e os Párias vão atrás da Montanha do Julgamento, mas é derrubado de novo com o gás de kryptonita. Eles passam por uma estrada cheia de obstáculos dignos do Indiana Jones, mas vencem todos e encontram a Montanha, na verdade um imenso veículo sobre rodas. O Superman os alcança neste ponto, e todos embarcam no veículo, onde são recepcionados por Jude, o líder dos Cabeludos. Jude age rapidamente para procurar uma bomba no carro da Legião Jovem, porém não consegue desarmá-la, e o Superman contém a explosão. Jude conta que sabia que eles seriam usados pelos seus inimigos para atacá-los, e é revelado que a bomba era um plano de Morgan Edge, o atual dono do Planeta diário e colaborador da Intergangue, além de lacaio de Darkseid.


Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 135 - janeiro de 1971 - capa
169169Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 135 – janeiro de 1971 – capa

Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 135 – janeiro de 1971 – O grupo é levado até o Projeto, onde a Legião Jovem original, os pais dos amigos do Jimmy, ajudaram a desvendar o DNA humano e criaram vários clones de si mesmos, para vários propósitos. Eles clonaram inclusive o Jimmy, e usam-nos como soldados. Os próprios Cabeludos foram criados pelo Projeto, frutos da manipulação genética. Enquanto isso, em outro lugar, é revelado que o Projeto possui uma contraparte maligna, liderada por cientistas de Apokolips a mando de Darkseid, que criaram seus próprios clones, incluindo uma versão do Jimmy gigante e super forte. Eles revestiram a pele do gigante com kryptonita, para que ele fosse páreo para o Superman, e o enviaram até o projeto. O herói luta contra o monstro e é derrotado, forçando a Legião Jovem original a liberar sua mais recente criação, um clone do herói Guardião (que, basicamente, é ele mesmo uma cópia do Capitão América).


The Forever People nº 1 - fevereiro de 1971 - capa
The Forever People nº 1 – fevereiro de 1971 – capa

The Forever People nº 1 – fevereiro de 1971 – A história do Jimmy Olsen faz uma pausa, e voltamos um pouco no tempo para conhecermos outro grupo, o Povo da Eternidade. Nativos da Supercidade, eles chegam à Terra a procura da sua amiga, Belos Sonhos, que foi sequestrada por Darkseid. Superman fica sabendo da chegada do grupo e vai até eles, interessado na Supercidade e procurando suas próprias origens, mas é seguido pela Intergangue. Juntos, Superman e o Povo da Eternidade derrotam os bandidos. Superman tem a chance de ir conhecer a Supercidade ou ficar e ajudá-los na luta contra o Darkseid, e decide ficar.



The New Gods nº 1 - fevereiro de 1971 - capa
69The New Gods nº 1 – fevereiro de 1971 – capa

The New Gods nº 1 – fevereiro de 1971 – Em mais uma edição introdutória, é a vez de conhecermos Órion e os Novos Deuses de Nova Gênese. Órion é convocado pelo Pai Celestial, líder dos Novos Deuses, e ao encontrar-se com ele ambos recebem a visita do cientista e historiador Metron. O Pai Celestial revela a Órion que ele deve ir até Apokolips e depois para a Terra. Enquanto ele parte, Métron comenta que Órion é a pessoa ideal para enfrentar Darkseid, por ser filho dele, mas o Pai Celestial diz que Órion não sabe disso, e pede que o segredo seja mantido. Em Apokolips, Órion enfrenta e derrota os parademônios e é guiado por Metron, que o seguiu, até um grupo de humanos aprisionados. Órion liberta-os, mas Kalibak, o outro filho de Darkseid, tenta atrapalhar sua fuga para a Terra. Órion consegue livrar-se de Kalibak e leva os humanos de volta para casa, seguindo-os. Lá ele descobre que Darkseid já está na Terra, com seus planos em execução.


Mister Miracle nº 1 - março de 1971 - capa
Mister Miracle nº 1 – março de 1971 – capa

Mister Miracle nº 1 – março de 1971 – Em mais uma história de origem, conhecemos Thaddeus Brown, o Senhor Milagre, um artista de fugas já idoso. Durante um ensaio, o jovem Scott Free, que passava pelo local, testemunha o feito, e revela ele mesmo ser também um artista de fugas. Enquanto conversam, eles são atacados pelos capangas do Mão de Aço, um gângster ligado à Intergangue. Eles derrotam os bandidos, e o Senhor Milagre resolve adotar Scott como seu pupilo. Órfão, Scott tem uma maleta cheia de tecnologias incríveis que ele usa em seus truques, vindas de Nova Gênese. Porém, ainda não é revelado se Scott conhece as origens dos seus aparelhos. Ele os recolheu no orfanato em que cresceu, onde foram deixados por pessoas desconhecidas. Durante um novo ensaio, o Senhor Milagre é baleado e morto, e Scott assume seu nome e uniforme. Ele vai atrás do Mão de Aço, mas é capturado e preso em um foguete. Ele consegue se livrar da armadilha e prende o Mão de Aço e seus capangas.


Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 136 - março de 1971 - capa
Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 136 – março de 1971 – capa

Superman’s Pal, Jimmy Olsen nº 136 – março de 1971 – Superman e o Guardião lutam contra o monstruoso clone do Jimmy Olsen, e são ajudados por um gás misterioso que o nocauteia. Para sua surpresa, o gigante foi derrubado por soldados em miniatura, que pularam de paraquedas de um avião também em miniatura. Eles congelam o monstro e o prendem. Depois, a Legião Jovem original conta como clonaram o Guardião após a morte do original, e o Superman revela que já conhecia o trabalho desenvolvido no Projeto. Ele conta também que um grupo rival roubou o trabalho do Projeto, e foi como eles criaram o monstro que os atacou. Enquanto isso, ameaçados por Darkseid após o fracasso do Jimmy gigante, os cientistas de Apokolips resolveram libertar suas novas criações.


*** FIM DOS SPOILERS ***

A história do Quarto Mundo começa muito bem, despertando a curiosidade para saber como vai se desenrolar, apesar do estilo narrativo extremamente datado, com excesso de textos explicativos. Além dos recordatórios frequentes, todos os personagens colaboram “narrando” a história o tempo todo. É estranho e até um pouco maçante no início, mas você se acostuma rápido e em pouco tempo nem percebe mais, passa a fazer parte do charme da história.

A arte dinâmica do Rei aqui ainda está um pouco tímida, apesar de algumas experimentações já bem inovadoras. Aparecem aqui e ali suas famosas e facilmente reconhecíveis ilustrações de máquinas complexas incrivelmente detalhadas. A página com o Habitat, da primeira história, é particularmente interessante. Conforme a saga se desenrola, Kirby vai ganhando cada vez mais liberdade para soltar sua criatividade. Uma curiosidade interessante, revelada no texto introdutório deste volume, é que o traço de Kirby era tão diferente, até exótico, que os seus desenhos do Superman e do Jimmy Olsen eram refeitos por outros artistas da DC, para se encaixarem no padrão das outras revistas em que eles apareciam.

O Quarto Mundo de Jack Kirby - O Habitat
O Quarto Mundo de Jack Kirby – O Habitat

A série já está com o 5º e o 6º volumes prometidos pela editora para lançamento em outubro e novembro deste ano, respectivamente. Não gosto de dizer que alguma obra seja de leitura obrigatória, mas a saga do Quarto Mundo é com certeza recomendadíssima para qualquer leitor de quadrinhos, de qualquer idade. Trata-se de mais do que uma obra clássica, é um verdadeiro documento histórico da indústria.

Nota do Vini: 9 / 10 😀

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