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#Resenha Black Hammer vol. 3: Era da Destruição – parte I (Dark Horse / Intríseca)

Sinopse da editora:

“Ao vencerem o poderoso e maligno Antideus, os maiores heróis de Spiral City desapareceram sem deixar vestígios. Todos acreditam que eles estão mortos, mas há dez anos vivem isolados em uma pacata fazenda, relegados ao esquecimento e à melancolia de dias sem glória. Obrigados a disfarçar seus poderes, sua natureza e suas origens aos olhos dos habitantes locais, eles personificam uma típica família disfuncional, tentando criar para si uma vida comum, mas que ainda é atormentada pelos mistérios que envolvem sua chegada e sua permanência na cidade.

O terceiro volume reúne os cinco primeiros fascículos de Era da destruição. Nesta primeira parte, grandes segredos começam a ser revelados quando os ex-heróis recebem uma visita inesperada que tanto pode lhes mostrar o caminho para casa, como ser um prenúncio do caos e da destruição que estão por vir. Criada por Jeff Lemire e Dean Ormston, a série Black Hammer é uma história arrebatadora sobre memória, família, o peso do passado e o medo do futuro.”

Ficha técnica:

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A premissa desta premiada série tem algumas semelhanças com minha querida Astro City: trata-se de arquétipos de personagens conhecidos dos quadrinhos de super-heróis, mostrados em situações não convencionais, ou vistos por outro ângulo. Porém, as semelhanças param por aqui, pois enquanto Astro City mostra de forma otimista a vida cotidiana dos personagens, às vezes até focando-se nos coadjuvantes, pode-se dizer que Black Hammer vai para o caminho oposto.

A história se concentra nos personagens principais, que formam um grupo pequeno de heróis reconhecíveis. Temos Abraham Slam, claramente inspirado no Capitão América; a feiticeira misteriosa Libélula, um ser místico que lembra o Monstro do Pântano, da DC, e o Homem-Coisa, da Marvel; a Menina de Ouro, uma versão invertida do Shazam, pois ela é uma mulher adulta que se transforma em uma criança super poderosa; o Coronel Weird, um explorador espacial que lembra em aparência o Adam Strange, da DC (ou o Astronauta do Danilo Beyruth!) e sua parceira robótica, Talky-Walky; o Barbalien, uma versão com cores invertidas do Caçador de Marte, da DC; e o herói que nomeia a série, o Black Hammer, uma criativa mistura de Lanterna Verde, da DC, com o Thor, da Marvel. Ele recebeu o martelo que lhe concede seus poderes de um alienígena moribundo, o Black Hammer anterior.

Da esquerda para a direita: Abraham Slam, Coronel Weird, Talky-Walky, Garota de Ouro, Barbalien e Libélula
Da esquerda para a direita: Abraham Slam, Coronel Weird, Talky-Walky, Garota de Ouro, Barbalien e Libélula

Os autores aproveitam muito bem das características de cada um dos personagens (e dos seus arquétipos) para desenvolver a história. Abraham Slam, por exemplo, é conservador e pacato, e tem mais facilidade para aceitar a situação em que eles se encontram. Gail, a Menina de Ouro, por outro lado, ficou presa em sua forma infantil, e não suporta ser uma adulta em um corpo de criança. O sentimento de deslocamento que o Barbalien sente, por ser um alienígena vivendo entre humanos, é exacerbado pela sua homosexualidade. Estas e outras características são exploradas na convivência dos personagens entre si, e com os moradores da cidadezinha rural em que estão presos.

Cuidado: alerta de spoiler!
Cuidado: alerta de spoiler!

Nos volumes anteriores, descobrimos que os heróis agiam em Spiral City, uma cidade de maravilhas semelhante à Metrópolis (ou Astro City). Eles se uniram para enfrentarem a ameaça do Antideus, uma versão do Darkseid, da DC, mas gigante como o Galactus, da Marvel. Eles conseguiram derrotar e destruir o vilão, mas desapareceram durante a batalha, e foram dados como mortos. Eles foram transportados para uma fazenda onde vivem isolados do mundo exterior, presos há dez anos em uma espécie de redoma. Assim que chegaram, o Black Hammer morreu tentando quebrar a barreira que os prendia.

Fingindo ser uma família disfuncional, eles tocaram a vida como puderam na pequena comunidade de Rockwood, onde se envolveram com os moradores locais (que, aliás, não são limitados pela redoma). Enquanto isso, em Spiral City, a filha do Black Hammer, Lucy Weber, investigou o desaparecimento do pai e dos outros heróis, não acreditando que eles estavam mortos. Ela acabou descobrindo o martelo do pai, que voltou para a Terra após a morte dele. Ao empunhá-lo, ela se tornou a nova Black Hammer, e tomou conhecimento do que tinha acontecido com os heróis, inclusive dos responsáveis pela situação em que eles se encontram. Ela imediatamente se transportou para a fazenda, mas ao chegar teve a memória apagada pela Libélula.

Lucy Weber, a nova Black Hammer
Lucy Weber, a nova Black Hammer

Lucy então retoma sua investigação, desta vez na própria Rockwood, e acaba recuperando a memória. O volume 3 começa neste ponto. Lucy reúne os heróis para contar que descobriu as respostas para todas as questões, desde porque eles estão presos na fazenda até quem é o responsável por esta prisão. Porém, quando vai começar a falar, ela desaparece. A Libélula procura por ela misticamente, mas não consegue encontrá-la, e por isso todos se desesperam, principalmente Gail, a Garota de Ouro. Eles entram em casa para se acalmar e pensar na situação, e se espantam ao perceber que a Libélula se junta a eles, já que normalmente ela prefere se isolar.

Lucy acorda em um bar cheio de monstros e figuras exóticas. O bartender, Lonnie James (um sacana que lembra bastante o mago John Constantine, da DC), dá a entender que ela morreu e está em uma espécie de limbo, chamado de Antessala. Na fazenda, os heróis resolvem seguir os passos da investigação da Lucy, e conversar com os moradores de Rockwood em busca de pistas. Lucy convence Lonnie a ajudá-la a sair daquele lugar, mas ele a engana e a leva para o Inferno, onde a entrega a um demônio como pagamento de uma dívida. Lá ela faz amizade com Black Sabbath, um fantasma semelhante ao Desafiador, também da DC. Usando o seu poderoso martelo ela consegue se libertar, e o demônio abre um portal para que ela e o seu novo amigo saiam do Inferno.

Em Rockwood, os heróis continuam investigando. Quando começam a se aproximar da verdade, acontecimentos estranhos começam a despertar a desconfiança deles. O ex-marido desaparecido da namorada do Abraham volta à cidade, e abençoa o relacionamento deles. O padre local, por quem o Barbalien estava apaixonado, deixa de lado suas convicções religiosas e eles também iniciam um relacionamento. Saindo do Inferno, Lucy e Black Sabbath chegam à Storyland, uma confluência de várias realidades (ou histórias) e conhece os Perpétuos, personagens da série Sandman, de Neil Gaiman. Eles explicam que ela está passeando pelas histórias de outras pessoas, e deve retornar para a dela própria.

Gus, de Sweet Tooth
Gus, de Sweet Tooth

Lucy retorna para a Antessala, que dá acesso às várias histórias. Ela abre algumas portas e chega inclusive a vislumbrar a realidade do Gus, personagem principal da série Sweet Tooth, também da DC / Vertigo, como o Sandman, e obra do mesmo Jeff Lemire. Usando o martelo ela finalmente encontra o portal para retornar à fazendo, onde confronta os responsáveis pelo seu passeio: a Libélula e o Coronel Weird! Ao mesmo tempo, Gail consegue reativar por alguns momentos a robô Talky-Walky, que havia sido parcialmente destruída pelo Coronel Weird, ao descobrir o que ele e a Libélula tinham feito. Talky consegue apenas dizer que a Libélula mentiu para eles, antes de se desligar novamente.

Enfurecida, Gail vai atrás da Libélula, sendo seguida por Abraham e Barbalien. A bruxa está prendendo a Lucy, porém, cansada, ela e o Weird decidem contar tudo. Ela então desperta os heróis, que estavam em animação suspensa dentro da nave do Coronel Weird, vivendo uma ilusão compartilhada. A nave está dentro da Parazona, uma dimensão semelhante à Zona Negativa, da Marvel. Porém, a Parazona é inóspita, e somente o Weird consegue sobreviver fora da sua nave. Ao tentar sair da “fazenda”, o Black Hammer na verdade saiu da proteção da nave, e por isso morreu.

Após tomar posse do martelo do seu pai, Lucy foi contatada por um cientista, o ex-herói Doutor Estrela (o equivalente ao Starman, da DC). Ele descobriu um portal para a Parazona, e enviou Lucy até lá. Ao atravessar, ela descobriu a nave do Coronel Weird e encontrou os heróis, e foi neste momento que a Libélula apagou a memória dela e a incluiu na ilusão compartilhada. Weird explicou que prendê-los nesta ilusão foi ideia dele, ao perceber que a destruição do Antideus tinha provocado um desequilíbrio cósmico. Se eles permanecessem na Terra, o Antideus retornaria. Então, ele transportou todos para a sua nave na Parazona, e enquanto estavam desacordados pelo choque da viagem ele e a Libélula elaboraram a ilusão que os manteria presos à nave.

Os heróis voltando para casa
Os heróis voltando para casa

Abraham e Barbalien querem voltar para as pessoas que amam em Rockwood, mas Libélula explica que eles nunca existiram de verdade, e não é possível recriar o feitiço que gerou a ilusão compartilhada. Weird conta então que eles estão à caminho de casa, de volta para a Terra, apesar dos protestos da Libélula. A edição termina com um grande clarão, no momento em que eles estão chegando em casa.

*** FIM DOS SPOILERS ***

Após duas edições alimentando o mistério do que tinha acontecido aos heróis, este terceiro volume finalmente entrega tudo, e amarra cada uma das pontas que tinham ficado soltas. Embora a solução “era tudo um sonho” seja um baita clichê, a história é muito bem encaminhada para este ápice. Algumas pistas já apontavam claramente para os culpados, mas sinceramente não era bem isto que eu esperava. A metalinguagem utilizada no passeio da Lucy pelas várias histórias enriqueceu exponencialmente a narrativa, além de abrir possibilidades quase infinitas para o direcionamento a partir daqui. Com o mistério da prisão dos heróis resolvido, restará ao último volume explicar as consequências deste retorno deles para casa.

Jeff Lemire é um roteirista reconhecido pelos grandes trabalhos tanto na DC quanto na Marvel. Em Back Hammer, ele fez como uma criança que, com suas action figures, cria suas próprias histórias usando seus personagens preferidos, e o resultado é imperdível. A arte, suja e visceral, completa o clima realista da história, combinando perfeitamente. Assim como Astro City, esta série é perfeita para o fã de super-heróis que procura algo para ler que vá além dos clichês do gênero.

Nota do Vini: 9 / 10 😀

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