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[Resenha] Astro City vol. 12 – Corações em Conflito (DC Comics – Vertigo / Panini Comics)

Sinopse da editora:

“As coisas mudam. Mesmo em Astro City, onde pessoas comuns já estão acostumadas a caminhar lado a lado com heróis, vilões, monstros e muito mais. E hoje, dois velhos heróis encaram uma dura verdade: seus dias de glória acabaram. Os aclamados criadores Kurt Busiek, Brent Anderson e Alex Ross trazem uma história de objetivo, ambição, envelhecimento, desafio e perda, enquanto o tempo cobra seu preço – mesmo de heróis lendários.

Também neste volume, a história de Baquetas, um gorila falante de uma cidade oculta que vem a Astro City com um objetivo em mente: tocar bateria em uma banda. Mas não é assim tão simples. Nada nunca é. Glórias do passado, novos rostos.O décimo segundo volume da premiada série Astro City reúne as edições 18 a 21 e 23 e 24 de Astro City Vol. 3.”

Ficha técnica:

  • Formato 17 x 26 cm
  • Capa cartão
  • Lombada quadrada
  • 176 páginas
  • Data de publicação: outubro de 2019

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As belíssimas capas pintadas de Astro City, obras do genial Alex Ross, sempre chamaram minha atenção. Elas mostram super-heróis desconhecidos, mas mesmo assim reconhecíveis, entregando uma característica da série, a de retratar arquétipos de personagens consagrados da DC e Marvel. Alguns são fáceis de reconhecer como o Samaritano (Superman), a Vitória Alada (Mulher-Maravilha), o Confessor (Batman), o grupo Primeira Família (Quarteto Fantástico) e o Caixa de Surpresas (Homem-Aranha). Outros, como os personagens principais deste volume, reúnem características de vários heróis.

Porém, Astro City não é uma série de super-heróis convencional, pois o seu foco não está nas façanhas heróicas dos personagens, mas sim na suas vidas particulares. Temas como depressão, arrependimento, superação e amadurecimento são abordados profundamente, e entremeados rapidamente por atos de heroísmo, e não o contrário, como estamos habituados nas histórias da DC e da Marvel.

“Astro City” é também o nome da cidade fictícia onde  a maior parte das histórias são narradas, um misto de Metrópolis e Gotham City, e é na verdade a personagem principal. As histórias formam uma antologia, e os volumes encadernados podem ser lidos em qualquer ordem (com exceção dos volumes 6 e 7, que dividem a história “A Era das Trevas” em duas partes).

Não comecei minha coleção pelo volume 1, acho que foi pelo 3 ou 4. E a história, narrada em primeira pessoa pelo personagem principal, como quem escreve em um diário (outra característica da série), me fisgou imediatamente. E também de imediato corri atrás dos outros volumes, acompanhando a série fielmente desde então. Infelizmente, a Panini paralisou a publicação neste volume, que já tem um ano. Precisamos mostrar para a editora que #QueremosMaisAstroCity, por isso sugiro a hashtag para a campanha. Se você também é fã da série, por favor poste em suas redes sociais.

Cuidado: alerta de spoiler!
Cuidado: alerta de spoiler!

Corações em Conflito

Este volume publica duas histórias, sendo esta a primeira. Ao participar da festa de aposentadoria do herói Sabre Negro (uma mistura de Batman com Capitão América), a heroína Jessica Taggart, a Balestra (não identifiquei quem seria seu equivalente, talvez a Gaviã Arqueira, da Marvel) começa a pensar sobre sua própria condição. Ela e seu parceiro, o Bambambão (outro difícil de identificar, mas tem semelhanças com o Demolidor), já atuam como super-heróis há muito tempo, e estão perto dos 50 anos. Sua força, velocidade e, principalmente, reflexos, estão bastante debilitados, se comparados ao início de carreira. Para compensar, ela usa uma pesada armadura que amplia sua força, mas limita mais ainda sua velocidade.

Ao enfrentar o grupo de vilões Xadrezistas (equivalente à Gangue Royal Flush, da DC – mas não gostei da tradução, acho que Enxadristas ficaria melhor), um instante de distração é suficiente para que o Bambambão seja seriamente ferido, e Balestra não consegue chegar a tempo para evitar. Ela derrota os vilões (chinfrins) sozinha, e leva o companheiro para o luxuoso apartamento que eles dividem. Enquanto ele se recupera, ela começa a se lembrar da infância no interior do Kentucky. Seu pai, um carteiro que constantemente se ausentava de casa por vários dias, a ensinou a atirar, a lutar e a fazer acrobacias, sendo ele mesmo muito habilidoso em todas estas atividades.

O que Jessica não sabia é que ele usava essas habilidades para o crime. E ela teve que descobrir da pior forma, a ver o pai algemado na televisão. Ele era o vilão conhecido como Balestra, e que apesar de diversos golpes aplicados com sucesso nunca levou o fruto dos roubos para casa. Aos 12 anos, com uma mãe apática que provavelmente já sabia das atividades ilícitas do marido, ela se viu obrigada a se tornar o alicerce da família, responsável por garantir o sustento e educação dos três irmãos menores.

Estudiosa e esforçada, Jessica continuou praticando as habilidades aprendidas com o pai. Por volta dos 17 anos, usando o equipamento adaptado do pai e o codinome Balestra, começou a atuar como heroína e caçadora de recompensas licenciada em Astro City. Com o dinheiro das recompensas, ela sustentou sua família, garantido que os irmãos tivessem acesso à educação e oportunidades que ela não teve. Agora, após quase três décadas, ela começa a pensar em até onde sua carreira pode ir.

Durante todo o tempo atuando como super heroína, Balestra fez parceria com vários outros combatentes do crime, e por fim passou a fazer parte da Guarda de Honra, o principal grupo de Astro City (uma mistura de Liga da Justiça com Vingadores). Ela recebe da empresa que abastece o grupo uma nova armadura, ainda mais avançada, que além de aumentar sua força também usa inteligência artificial para ajudá-la em suas acrobacias. E suas lembranças voltam de novo alguns anos, quando ela conheceu o Bambambão. Apesar da arrogância, ela encontrou nele um parceiro não só de heroísmo, mas também para dividir sua vida particular. Apesar de idas e vindas a longo dos anos, ela sabe que sempre pôde contar com ele. Após ganhar na loteria graças a um golpe de um vilão, acabou que ela ficou com o dinheiro. Em uma luta, distraída por causa do dinheiro, ela acabou ferindo-se seriamente, quebrando uma perna. Os médicos da Guarda de Honra recomendaram repouso, mas o Bambambão não permitiu, ajudando ela a encarar rotinas exaustivas de exercícios que não só evitaram que ela tivesse os músculos atrofiados, mas também garantiram uma recuperação mais rápida. Ela nunca esqueceu como ele ficou do lado dela, exigindo que ela desse tudo de si.

De volta ao presente, após o Bambambão voltar para casa muito machucado, Balestra conversa com ele sobre a possibilidade deles se aposentarem, mas ele não quer nem pensar no assunto. Segundo ele, a vida deles é o heroísmo, e não há mais nada pelo que valha a pena viver. Ele não quer usar uma armadura pesada, como ela, e fica obcecado em obter o soro que manteve o Sabre Negro jovem e saudável através das décadas em que atuou.

Em uma noite, Jessica é acordada pelo alerta da Guarda de Honra. Ela corre para a sede do grupo, onde é informada que alguém invadiu a casa do Sabre Negro e roubou as últimas doses do citado soro da vitalidade. Ela reconhece imediatamente o Bambambão nas imagens de vigilância. Enquanto discutem a situação, os heróis recebem uma comunicação do Gormenghast (ele lembra o Modok, vilão da Marvel, mas não tem traços humanóides). O vilão avisa que tem um refém: o Bambambão.

A Guarda de Honra parte para o covil do vilão, onde lutam contra vários clones jovens do Bambambão. Eles descobrem que o herói foi até Gormenghast propondo unir-se a ele, caso ele pudesse reproduzir o soro e fazê-lo funcionar nele. O Bambambão pretendia enganar o vilão, voltando-se contra ele após conseguir o que queria, mas aconteceu justamente o contrário (obviamente). Após derrotarem o vilão e seus asseclas, eles encontram o Bambambão descartado no lixo, quase morto.

De volta à sede da Guarda de Honra, os médicos dizem que o Bambambão vai sobreviver, mas provavelmente nunca mais voltará a andar. Jessica lembra de quando ele a ajudou na ocasião em que ela quebrou a perna, e sai para pensar e experimentar a nova armadura. Ela percebe que trata-se de um equipamento extraordinário, que não exige quase nenhum esforço dela, o que a faz pensar se vale a pena usá-la. Ela recebeu um e-mail do pai há alguns anos, e resolve finalmente fazer uma visita a ele, que pede perdão por tudo que fez a ela e à família.

A visita ajudou Jessica  a tomar uma decisão. Ela devolveu a armadura nova e comunicou aos amigos da Guarda de Honra que iria por fim se aposentar, e dedicar sua vida a ajudar na recuperação do Bambambão. Eles deixam a sede da equipe e, agradecido a seu modo, o Bambambão promete finalmente contar a ela seu nome verdadeiro. No fim, vemos o Samaritano lamentando-se pela saída de Balestra do grupo, e comenta que eles têm perdido boas mentes por causa das exigências das lutas constantes. E ele pretende fazer algo a respeito.

Baquetas

A segunda história do volume é sobre Baquetas, um gorila inteligente que vai para Astro City em busca do seu sonho: tocar bateria em um grupo de rock! Ele pretende participar de um teste de uma banda iniciante, onde obviamente chama a atenção por ser um gorila falante. Mas antes que tenha a oportunidade de começar a tocar, Baquetas é interrompido por um drone de um grupo de vilões que enfrentava a Primeira Família, e que caiu em um prédio próximo. Ele ajuda no resgate de várias vítimas, e logo se vê cercado por repórteres, que acreditam que ele seja um novo super-herói.

Baquetas conseguiu fugir da imprensa, e foi acolhido pelo pessoal da banda que fazia o teste. A pedido deles ele conta sua história. Ele é nativo da Montanha dos Gorilas, um oásis subtropical no meio da Antártica (misturamos aqui a Cidade Gorila, da DC, com a Terra Selvagem, da Marvel). A montanha fica sobre uma fenda que dá acesso a diversas dimensões paralelas. Entre elas está a Montanha dos Dinossauros, inimigos dos Gorilas, que atacam com frequência.

Nos anos 1950, a Montanha dos Gorilas foi descoberta pela Primeira Família, que lhes forneceram tecnologia para ajudá-los a se defender dos Dinossauros. A partir disto, os Gorilas tornaram-se uma sociedade profundamente militarizada, nos moldes da nação de Israel em nossa realidade.Todas os habitantes saudáveis são obrigados a prestar serviço militar, e Baquetas não fugiu desta responsabilidade. Apesar de detestar a rotina militar e abominar a violência, ele tornou-se um bom soldado, bem treinado, e ajudou diversas vezes a proteger sua nação.

Após os humanos começarem a assentar bases na Antártica, os Gorilas tiveram acesso às suas transmissões de rádio, TV e internet. Foi como o Baquetas conheceu a cultura humana, e se apaixonou por sua música. Sozinho, ele improvisou uma bateria e aprendeu a tocar. Cansado de lutar, ele resolveu desertar e fugir para Astro City. Os amigos o convidaram para a banda, e ele pensou ter realizado seu sonho.

Porém, as façanhas do Baquetas ao ajudar no resgate tornaram-no famoso. Ele recebeu a visita do grupo Reflexo 6, formado pelos filhos dos integrantes da Primeira Família, que o convidaram a se unir a eles, mas recusou. Mais tarde, durante um show, ele foi atacado por um grupo que pretendia escravizá-lo e vendê-lo. E conseguiu derrotá-los e fugir, mas ficou pensando que isto provavelmente voltaria a acontecer, e colocaria seus amigos novamente em risco. Por isso, ele resolveu abandonar a banda.

Lembrando-se dos seus tempos como soldado, Baquetas resolveu aceitar o convite do grupo Reflexo 6. Após algumas missões bem sucedidas, por causa do seu treinamento militar, ele se percebe que se desviou totalmente do seu sonho, e deixa o grupo. Indeciso e deprimido, ele voltou para os amigos da banda, mas não demorou a ser novamente atacado. Desta vez foram os amigos que perceberam que a presença dele colocava suas vidas em risco.

Pensativo, no telhado, ele recebe a visita do Samaritano, que se oferece para ajudar. Baquetas agradece, e enquanto o Samaritano voa para longe ele tem uma ideia. Ele entra em contato com o pessoal do Reflexo 6, que o ajudam com equipamentos e contatos. Juntos, eles reúnem músicos que tinham super poderes, e formam o grupo Powerchord, uma banda de rock de super heróis. Em paz, Baquetas finalmente realizou o seu sonho de ser músico, desta vez com amigos capazes de se defender e, ocasionalmente, enfrentar alguns vilões.

*** FIM DOS SPOILERS ***

A publicação de Astro City começou em 1995, sempre com um padrão altíssimo de qualidade no roteiro e na arte. Este volume mantém o nível, com duas histórias emocionantes, que nos levam a pensar em nossas próprias escolhas de vida e como sociedade. A maneira corajosa como a Balestra lidou com todos os problemas que enfrentou em sua vida é um exemplo a ser seguido. Assim como a determinação do gorila Baquetas em perseguir seu sonho. A arte, com traços clássicos, acompanha o texto de maneira brilhante.

Minha reclamação para esta edição fica apenas para os extras. Normalmente são incluídos esboços e comentários dos artistas, mas desta vez a Panini resolveu colocar o roteiro original da primeira história. É interessante para comparar o que mudou entre o roteiro e o resultado final, mas acho que o conteúdo publicado nos outros volumes acrescenta mais sabor às histórias.

Astro City é minha série de super-heróis preferida atualmente, e acredito que grande parte dos fãs do gênero concordariam comigo. Infelizmente, a série parece não alcançar um público muito grande, o que, juntamente com a crise econômica provocada pela pandemia do COVID-19, devem explicar a demora da editora e publicar mais volumes. Por isso, mais uma vez eu peço sua ajuda em divulgar a campanha #QueremosMaisAstroCity. Obrigado!

Nota do Vini: 9 / 10 😀

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