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[Resenha] Filhos do Éden vol. 3: Paraíso Perdido (Eduardo Spohr)

Sinopse da editora:

“O aguardado terceiro volume da série Filhos do Éden. No princípio, Deus criou a luz, as galáxias e os seres vivos, partindo em seguida para o eterno descanso. Os arcanjos tomaram o controle do céu, e os sentinelas, um coro inferior de alados, assumiram a província da terra. Relegados ao paraíso, ordenados a servir, não a governar, os arcanjos invejaram a espécie humana, então Lúcifer, a Estrela da Manhã, convenceu seu irmão — Miguel, o Príncipe dos Anjos — a destruir cada homem e cada mulher no planeta. Os sentinelas se opuseram a eles, foram perseguidos e seu líder, Metatron, arrastado à prisão, para de lá finalmente escapar, agora que o Apocalipse se anuncia. Dos calabouços celestes surgiu o boato de que, enlouquecido, ele traçara um plano secreto, descobrindo um jeito de retomar seu santuário perdido, tornando-se o único e soberano deus sobre o mundo. Antes da Batalha do Armagedon, antes que o sétimo dia encontre seu fim, dois antigos aliados, Lúcifer e Miguel, atuais adversários, se deparam com uma nova ameaça — uma que já consideravam vencida: a perpétua luta entre o sagrado e o profano, entre os arcanjos e os sentinelas, que novamente, e pela última vez, se baterão pelo domínio da terra, agora e para sempre.”

Ficha técnica:

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Prosseguindo exatamente do ponto em que a história parou no livro 2, este belo calhamaço de 560 páginas é dividido em três partes. A primeira conta as aventuras dos anjos Denyel, Kaira e Urakin em Asgard, lar dos deuses nórdicos. A segunda volta para o período anterior ao dilúvio, e tem como destaque o anjo Ablon, personagem principal do primeiro livro do autor. Nesse período, ele ainda era fiel às forças celestes, e tinha como missão capturar o rebelado Metatron. Na terceira parte convergem as duas primeiras, mostrando a batalha de Denyel, Kaira e Urakin contra Metatron e preparando o terreno para os eventos que darão origem à trama do A Batalha do Apocalipse.

Ao criar um universo incrivelmente rico, baseado em uma narrativa bíblica mesclada a elementos de diversas mitologias, Eduardo Spohr mostra novamente seu profundo conhecimento do livro sagrado do cristianismo. Seus personagens, com suas histórias e características particulares, são tão críveis que muitas pessoas questionam o autor, ateu assumido, se ele acredita nos fatos narrados em seus livros.

Cuidado: alerta de spoiler!
Cuidado: alerta de spoiler!

Ao chegarem à Asgard, enfraquecidos pela viagem no rio que liga as diversas dimensões, Kaira e Urakin são atacados por ogros. Eles são salvos por um grupo de valquírias que tem um cavaleiro entre elas: Denyel. Levados à cidade dos deuses chamados aesires, Denyel explica aos amigos que Asgard possui uma linha temporal própria, em que o tempo passa mais rápido. Ele já está lá, vivendo com os deuses, há 200 anos.

Paralelamente, o autor conta também a história do primeiro casal, Adão e Eva. Eles vivem no Éden, guardados (ou talvez encarcerados) do mundo exterior por Metatron, chamado de Rei dos Homens. Samael, servo de Lúcifer, revela à Eva que existem outras pessoas no mundo, e que seu pai, Metatron, mantém o casal como prisioneiros. Ele é severamente punido por isso pelo Rei dos Homens, mas sabe que, mesmo assim, cumpriu sua missão.

No palácio real asgardiano Denyel prossegue seu relato. Ele contou que foi sincero sobre sua origem celeste, e apesar do rancor entres estes e os asgardianos, fruto das Guerras Etéreas travadas milênios atrás, ele conseguiu se provar como um guerreiro valoroso e conquistou a confiança da rainha Sif e de Hildr, a capitã das Valquírias. Ele contou também que não é possível sair de Asgard: Bifrost, a ponte do arco-íris, está sob controle do gigante Thrymir, após a derrota e morte de quase todos os deuses nórdicos do sexo masculino em batalha. Restam do povo asgardiano a rainha Sif, as Valquírias, deuses menores e Heimdall, este prisioneiro de Thrymir.

Enquanto isso, Ismael, que se perdeu do grupo de Kaira no rio Oceanus, é resgatado por Metatron. O primeiro anjo tenta convencer Ismael a se juntar à sua causa, trazendo com ele os seus amigos. Ele avisa que Ismael cumprirá esta ordem querendo ou não, e para justificar suas palavras mostra seu trunfo: Levih, morto no livro anterior, e agora sob seu comando. Posteriormente, Metatron encontra-se com o arcanjo Gabriel, líder de Kaira, e o informa de seus planos de evitar o Apocalipse e se firmar como deus na Terra.

Após derrotar e poupar a vida de Hildr em duelo, Kaira conquistou o direito a uma audiência com Sif. Ela se dispôs a ajudar os asgardianos a recuperarem o controle sobre a Bifrost, porém a rainha declara que esta tarefa é impossível de ser realizada, e não aceita a oferta. Kaira solicita então apenas a permissão para que ela e os outros anjos tentem executar a missão sozinhos, e é atendida. Armados e abastecidos, Kaira, Urakin e Denyel partem em viagem. Após navegar por um dia inteiro, adentram uma floresta que é conhecida como a terra das fadas, onde enfrentam o primeiro desafio, uma ninfa que se identificou como Grimhildr.

Com os colegas dominados pela ninfa, Kaira encontrou o sarcófago de um guerreiro, e junto ao corpo duas armas: um seax, que é uma espada curta, e um arco. À distância e em desespero, com os colegas quase morrendo, Kaira toma o arco e o arma, e para sua surpresa uma flecha em chamas foi conjurada, que ela prontamente usou para matar a ninfa, libertando os colegas. O autor faz uma referência à arma do arqueiro Hank, personagem da animação clássica dos anos 1980, Caverna do Dragão.

Caverna do Dragão - Arqueiro
Caverna do Dragão – Arqueiro

Livres da ameaça da ninfa, Denyel oferece o seax à Urakin, que recusa. Eles prosseguem em sua jornada, e chegam às proximidades de um vulcão extinto que os elfos usavam como depósito de armas, e que agora é onde o dragão Níðhöggr vive e guarda seus tesouros. Embora oriundo da mitologia nórdica, desta vez a referência é a Smaug, outro dragão que também vive sob uma montanha onde guarda seu ouro em O Hobbit, de J. R. R. Tolkien. Entre os tesouros do dragão (o nórdico) está o Mjölnir, o místico e poderoso martelo de combate de Thor. Denyel planeja se apossar do martelo e usá-lo para matar o dragão, mas seu plano falha, pois ele não é digno de erguer a arma. No último instante ele é salvo pela intervenção de Kaira e um revigorado Urakin, que conseguiu brandir o Mjölnir. Durante a luta, o seax que ele carregava cresceu até o comprimento de 1,5 metro, e o dragão a reconheceu como Notung, ou Gram, a espada mística do semideus Siegfried, forjada para exterminar dragões. Aqui a referência óbvia é à Espada Justiceira, arma do líder dos ThunderCats, Lion-O, outra animação clássica dos anos 1980.

Thundercats - Espada Justiceira
Thundercats – Espada Justiceira

Com dificuldade e trabalho em equipe eles enfim derrotam e matam o dragão, mas a um custo alto, pois Denyel foi gravemente ferido. Sua única chance de sobrevivência é retornar ao castelo de Sif, onde pode receber cuidados médicos. Como que atendendo suas preces, surge Sleipnir, o corcel de oito patas de Odin. Ele fazia parte do tesouro do dragão, e foi libertado com sua morte. O cavalo mágico levou os três em sua garupa ao castelo, vencendo em minutos uma distância que os anjos precisariam de dois dias a pé.

Kaira aprende que seu arco se chama Ýdalir, e era a arma do deus Ullr. Ele tem o poder de manifestar a essência do seu usuário, o que no caso dela explica as flechas de fogo. Aliás, Sif permitiu que os três anjos permanecessem com as armas místicas encontradas. Recuperado, Denyel presenteia Kaira com sua espada celeste, já que agora ele tem a posse da Notung. Enquanto conversavam, chega ao castelo uma comitiva dos anões, liderada por seu rei, Dáinn. Ele solicita uma audiência com Sif, onde, após uma longa discussão, consegue convencê-la a unirem-se todos, aesires, anões e os três anjos, para retomar o controle da Bifrost.

Os aliados dividem-se em dois grupos: Urakin segue a Sif, as Valquírias e o exército dos anões na invasão à fortaleza de Thrymir. Enquanto que Kaira, Denyel e Dáinn, usando túneis que seriam conhecidos apenas pelos anões, partem para libertar Heimdall. A princípio, a batalha segue conforme o plano. Sif e seus aliados travam combate com os lobos que guardam o castelo, enquanto que no subsolo o trio restante rapidamente encontra o deus aprisionado. É aqui que tudo degringola. Cavalgando o Sleipnir, Urakin invade a fortaleza, mas é imediatamente atacado por Thrymir, que com um só golpe mata o corcel místico e derruba seu cavaleiro. Nos túneis abaixo, Surtr surge para impedir a libertação de Heimdall. Dáinn o golpeia com sua acha mística, que imediatamente transforma o gigante em rocha. A alegria da vitória dura pouco, pois instantes depois Surtr se recupera, e derrota Dáinn com facilidade, amputando sua mão esquerda e provocando com isto a perda também do famoso anel dos Nibelungos, símbolo do seu reinado.

Sif resolve adentrar o castelo, onde descobre Urakin mortalmente ferido, e confronta o gigante de gelo Thrymir. No subsolo, antes que Surtr tenha a oportunidade de matar Dáinn, Denyel o aborda, chamando para o combate. Como não poderia lutar contra um gigante de fogo com flechas flamejantes, Kaira mudou de estratégia ao notar o cajado de Heimdall preso ao cinto do adversário. Com uma flecha certeira ela soltou o cajado, que foi apanhado por Denyel. O anjo jogou o cajado para o deus aprisionado, que se libertou e começou a virar a maré da luta a favor dos heróis. Ele congelou o ambiente, o que enfraqueceu o gigante. Kaira aproveitou-se da energia mística do gelo criado por Heimdall, e agora suas flechas, também feitas deste mesmo gelo, conseguiram ferir o inimigo. Golpeado ainda pela espada de Denyel, Surtr enfim foi derrotado e morto. Ao percorrerem o calabouço para ajudar na luta que ocorria acima, eles encontram o trasgo Ikol recitando o encanto que conjurava sem parar lobos para o combate. Quando interromperam o feitiço, a verdadeira face do vilão é revelada: Loki, o deus da trapaça.

No campo de batalha, o grupo formado pelos anões e as Valquírias finalmente estava conseguindo dar cabo dos lobos, agora que o feitiço que o gerava cessou. No subterrâneo, antes que pudessem impedi-lo, Loki apropriou-se do anel dos Nibelungos e fugiu. O grupo seguiu adiante, e chegaram ao salão principal do palácio no momento em que Thrymir se preparava para dar o golpe final em Sif e Urakin. Ao ver Kaira, o gigante pensou se tratar de Herja, a valquíria também ruiva cuja armadura a arconte usava, e que tinha sido morta por ele. Assustado, ele a atacou com o machado, e ela se protegeu usando o arco Ýdalir, que se partiu com o golpe. Desviado, o machado atingiu o piso, que já fragilizado pela luta cedeu, levando Kaira e o gigante para o subterrâneo, onde jazia o cadáver ainda fumegante de Surtr. Ao perceber que o irmão fora morto, encolerizado, Thrymir atacou Kaira. Sem outra opção, a arconte enfim conseguiu conjurar a lâmina da espada de Denyel. Porém, em vez de metal, desta vez sua lâmina era de fogo, e com um só golpe ela conseguiu perfurar a armadura do adversário, matando-o e pondo fim à dura batalha.

Durante as comemorações, Kaira e Denyel conversaram, mas ela não conseguiu convencê-lo a voltar com eles para a Haled, o mundo dos homens. No dia seguinte, recuperado dos ferimentos e após devolver o Mjölnir, Urakin e Kaira encontraram-se com Sif e Heimdall na Bifrost. Os aesires agradeceram a ajuda dos anjos, e disseram que eles sempre teriam lugar em Asgard, se desejassem. Heimdall perguntou a eles para que ponto do planeta deveria enviá-los, e enquanto Kaira hesitava foram surpreendidos pela chegada de Denyel, que escolheu Nova Iorque. O anjo mudou de ideia e os acompanhou na viagem. Durante o trajeto, afetada pelas energias místicas da ponte do arco-íris, Kaira recuperou algumas das lembranças de antes do período em que ela pensava ser humana (como visto no livro 1).

É interessante notar, no texto do Eduardo Spohr, as várias influências da cultura nerd. Esta primeira parte do livro, além das referências que eu já citei, tem todo um clima de O Senhor dos Anéis, de Tolkien, com suas batalhas grandiosas, anões, elfos, fadas, guerreiros e vilões místicos. No início da segunda parte, a sensação é de estar lendo um episódio de Jornada nas Estrelas (Star Trek, para os mais jovens). O autor volta ao período de antes do Dilúvio, quando, em sua mitologia, existiam duas raças disputando a hegemonia na Terra. De um lado, os Atlantes, sábios e pacifistas. Do outro, os belicosos descendentes de Caim, filho de Adão.

Nessa época, Ablon, o herói exilado do primeiro livro do autor, ainda era um general a serviço do arcanjo Miguel. Foi-lhe dada, a ele e sua parceira, Ishtar, a missão de exterminar os últimos três anjos sentinelas, que deveriam guiar a humanidade no caminho dos arcanjos, mas rebelaram-se. Ele deveria também capturar o líder deles, Metatron. Ablon procurou a ajuda de Orion, soberano da Atlântida. O rei indicou a possível localização de um dos três alvos, e colocou a seu dispor a nau capitânia de sua frota, com sua tripulação. Ao navegar por vias marítimas especiais, o navio conseguia dobrar o espaço e encurtar a distância percorrida, fazendo com que uma viagem de várias semanas fosse feita em poucos dias. Sim, exatamente como nossa querida Enterprise faz.

Star Trek - Enterprise em velocidade de dobra
Star Trek – Enterprise em velocidade de dobra

No caminho, eles foram atacados por navios camuflados e aves de rapina, mas não foram os Klyngons, foram os servos de Kothar-wa-Khasis, um mago. (Eu tomei uma pequena licença poética para manter o paralelo com os Klyngons: as aves eram na verdade pterodátilos, os últimos da espécie.) Apesar de possuírem uma arma semelhantes aos torpedos fotônicos da Enterprise, os atlantes foram derrotados, e os anjos capturados.

Star Trek - Ave de Rapina klingon acionando a camuflagem
Star Trek – Ave de Rapina klingon acionando a camuflagem

A partir deste ponto, saímos do universo futurístico de Jornada nas Estrelas e voltamos à Era Hiboriana de Conan, o cimério de Robert E. Howard. O plano do mago Kothar é invocar um deus extradimensional antiquíssimo, uma criatura grotesca e indescritível, controlá-lo e usar o seu poder em seus planos de dominação mundial. E, assim como acontecia aos magos nas histórias do Conan, aqui o vilão também foi morto e devorado pelo monstro assim que ele entrou na nossa dimensão. Com a ajuda de Inanna (a filha de Lillith, a primeira mulher de Adão na mitologia hebraica, com Lúcifer), Ablon e Ishtar conseguiram derrotar o monstro e baní-lo de volta para sua dimensão de origem.

Depois deste primeiro desafio, Ablon e Ishtar foram a Shadair, uma grande metrópole que recebia comerciantes do mundo todo. Descansados e alimentados, Ablon ordenou que eles se separassem. Ishtar iria atrás de Muzhda, mais ou menos onde hoje fica a cordilheira do Himalaia, enquanto Ablon enfrentaria Kali, no territória que hoje pertence à Índia. Cumpridas suas missões solitárias, eles deveriam se reencontrar na capital do país chamado Sakha, onde milênios mais tarde floresceria o Egito antigo.

A missão de Ablon seguiu mais ou menos o mesmo roteiro da clássica história A Torre do Elefante, do já citado bárbaro Conan. Assim como na história do cimério, Ablon escalou e invadiu uma torre altíssima, imaginando que lá enfrentaria seu proprietário, que no caso do celeste seria a sentinela rebelde Kali. E da mesma forma como aconteceu com Conan, Ablon foi surpreendido ao encontrar seu alvo, uma serafim da classe dos suryas com seus quatro braços acorrentados. As seis asas tinham sido arrancadas, assim como o coração, mas de alguma forma ela ainda estava viva. Conan, por sua vez, encontrou-se com o deus elefante – na verdade, um alienígena com poderes telepáticos – também acorrentado.

Conan, o Bárbaro - A Torre do Elefante
Conan, o Bárbaro – A Torre do Elefante

Kali explicou para Ablon que os antigos sacerdotes daquele povo acreditavam numa profecia que dizia que, enquanto uma deusa viva estivesse na torre, eles teriam prosperidade. Por isso, fizeram um feitiço usando o próprio coração dela, que criou um escudo de energia à sua volta, e a manteve viva por mais de 60 mil anos. Ela implorou que Ablon a libertasse da sua prisão, matando-a no processo, e apesar de relutante ele por fim concordou. Encontrou o coração no fundo de um poço, guardado por uma cobra naja de cinco cabeças. Após vencer a luta, Ablon voltou à presença de Kali, e perfurou seu coração com a espada. O escudo de energia cedeu, e ele pôde aproximar-se dela para ouvir suas últimas palavras, antes de se entregar ao descanso final.

Ishtar, por sua vez, teve uma missão mais difícil. Depois de encontrar e se infiltrar no harém de Muzhda, ela descobriu porque ele era chamado de Colosso de Ferro: sua pele era revestida pelo metal. Com seus três metros de altura, ele dominava sobre o povo da região, exigindo que lhe fossem entregues suas donzelas para comporem seu harém, e em troca ele supostamente sustentaria os recursos naturais do país. Após uma luta ferrenha, Ishtar conseguiu usar sua técnica Risco de Prata, em que ela atinge o adversário à distância, usando o deslocamento de ar de sua espada. Porém, contra o adversário com o corpo metálico, ela precisou atraí-lo para um rio, onde usou a água e detritos do rio para conseguir perfurar a couraça, matando-o.

Os dois anjos reencontraram-se em Tukh, capital de Sakha, a nação dominada pelo terceiro e último sentinela rebelde, Kha. Eles o encontraram em sua fortaleza, Hut-Kha, mas não chegaram a enfrentá-lo. Extremamente poderoso, Kha alegou ser o próprio Sol, e os derrotou facilmente usando suas emanações de plasma. Desacordados, os anjos foram salvos pela providencial chegada de Orion, o soberano da Atlântida. Eras atrás, os dois já haviam se enfrentado, e Orion foi derrotado. Agora, ele retornou para desafiá-lo mais uma vez.

Com a ajuda do soberano da Atlântida, o trio descobre que o poder de Kha funciona como uma estrela, e que ele depende de manter sua posição meditativa, como um sol rodeado por planetas. Eles elaboram uma estratégia, em que um deles deverá se sacrificar para tirar o sentinela de sua posição para que os outros possam atacar. Porém, eles também percebem que matá-lo terá o mesmo efeito que a morte de uma estrela, ou seja, uma explosão supernova em pequena escala, que arrasará toda a nação. Ablon decide então que ele irá se sacrificar, e ordena que Ishtar fuja para que possa caçar Metatron. Ela reluta e por fim se afasta, mas em vez de fugir se esconde nas proximidades.

O plano funciona, e Ablon e Orion conseguem enfim desequilibrar Kha, fazendo-o se esgotar, e o matam. A explosão joga ambos longe, e o bidente usado por Orion, que possui uma pequena estrela em sua ponta, cai perto de Ishtar. Ela aproveita para partir esta estrela, gerando um pequeno buraco negro que suga toda a energia liberada pela morte de Orion, mas é atingida e morre. Desesperado, Ablon pergunta a Orion se ele sabe como restaurar a vida dela, e ele conta que isso talvez seja possível nos Campos Elísios, no Círculo Ártico. Orion promete ir com ele, mas desiste ao chegarem aos domínios atlantes e descobrirem que a guerra contra Enoque se intensificou. Por isso, Ablon segue viagem sozinho, com o corpo de Ishtar em um esquife de gelo.

De volta à era moderna, Ismael, agora chamado de Cerberus, desce ao Hades (o inferno na mitologia grega) acompanhado de Metatron. Prometendo restaurar seus corpos físicos, Metatron alicia Minos, filho de Zeus, e o seu exército para sua causa. Enquanto isso, Kaira, Denyel e Urakin chegam a Nova Iorque. Denyel os leva para o apartamento em que ele morou nos anos 1970, quando foi “casado” com a elohim Sophia, em busca dela e de informações sobre Metatron. Encontram apenas um recado, deixado por Sophia, avisando que o inimigo está a espreita, e que eles deveriam se encontrar. Porém, enquanto conversam sobre esta informação, são atacados por Metatron em pessoa!

Metatron derrota-os com facilidade e desaparece novamente, deixando o aviso de que os matará se continuarem perseguindo-o. Recuperados, eles recebem a visita de sua antiga adversária, Yaga, que agora diz ser aliada. Ela informa que Metatron está instalado em uma fortaleza no Hades, e mesmo não confiando totalmente nela Kaira aceita a ajuda. Eles tencionam acessar o Hades através do Sheol, o inferno bíblico, o que Denyel indica como um bom plano, mas do qual ele não participará. Kaira tenta convencê-lo a ir com eles, mas sem muitas explicações ele vai embora.

Voltando brevemente ao passado, Ablon alcançou o local onde deveriam existir os Campos Elísios, mas não encontra nada. Depois de esperar por meses, ele por fim é socorrido por Rafael, o quinto arcanjo. Rafael conta que criou os Campos Elísios, em uma das camadas do plano etéreo, para abrigar as almas dos justos. Ablon pede que o arcanjo restaure a vida de Ishtar, e Rafael explica que pode fazê-lo, mas em troca de outra vida. Ablon prontamente se oferece para o sacrifício, mas Rafael recusa, e diz que a vida que será tomada é a dele próprio, e pede que Ablon prometa que irá tomar a vida dele, quando chegar a hora. Ablon aceita, e Rafael cura todos os ferimentos de Ishtar, mas ela ainda não acorda. Rafael explica que agora cabe a ela decidir se irá retornar. O arcanjo apagou as lembranças de Ablon para que ele não se lembrasse dos Campos Elísios, e o devolveu à Terra.

De volta à Nova Iorque, Yaga guia Kaira e Urakin pelo plano das sombras, mas a passagem que ela conhecia para o Sheol está fechada. Eles são atacados pelos guardiões, seres que habitam este plano, mas Kaira consegue ler a inscrição que abre a passagem, e eles são transportados para o inferno. Porém, eles surgem exatamente no meio de uma batalha entre duas facções rivais, uma delas liderada por Innana, aquela mulher-demônio que ajudou Ablon no início do livro. Eles se defendem como podem, mas acabam também derrotados e feitos prisioneiros pelas forças de Inanna. Ao acordar, Kaira é interrogada por Inanna, mas não revela sua missão. Neste momento surge Lúcifer, que conta a Inanna o propósito de Kaira e se compromete a ajudá-la. Mesmo sabendo que provavelmente trata-se de alguma artimanha, Kaira não vê outra opção senão aceitar. Satisfeito, Lúcifer ordena à Inanna que vá com Kaira e seus amigos.

Na França, Denyel encontra-se com Sophia, e pede a ela ajuda para encontrar um bom ferreiro e para ir até o Hades para matar Metatron. Ela impõe suas condições e concorda, levando-o até a mítica Avalon, onde está ocorrendo um festival anual que eles podem aproveitar para buscar a ajuda de que precisam. Lá, Denyel encontra-se com Hefesto, o ferreiro dos deuses gregos, ainda que seu nome não seja citado. Em troca de uma pequena amostra de metal atlante, o ferreiro aceita forjar duas balas com material extraído da lança de Nod, uma arma mística dos magos de Enoque, e que Denyel pretende usar contra Metatron. Após receber sua encomenda, ele encontra-se novamente com Sophia, que o apresenta ao guia que os levaria ao Hades, outro deus grego, Hermes.

No inferno, Kaira e seus companheiros, acrescidos de Inanna, tomam um barco que os levará, pelo rio Styx, até o Hades. Ao mesmo tempo, Hermes conduziu Denyel e Sophia por uma escadaria que os levou diretamente para o Hades. Porém, Sophia traiu Denyel, revelando-se estar a serviço de Metatron. Hermes, também conhecido como o Príncipe dos Ladrões, roubou a lança de Nod dele, e o abandonaram para enfrentar o basilisco que guardava os entornos do palácio de Metatron. Enquanto Sophia adentrava o palácio, Hermes ficou à porta, fumando, e foi surpreendido por Denyel, que matou o basilisco com uma das balas místicas. Ele entregou Hermes a Hefesto, que tinha os seguido secretamente, e entrou também. No grande salão, escondido, ele viu Sophia conversando com  Metatron, e fez mira para matá-lo. Antes que pudesse, porém, foi nocauteado. Já acordado, Metatron revelou a Denyel que esteve preparando-o durante todo o seu tempo na terra para serví-lo, e diz que esta hora chegou. Denyel se recusa, e é aprisionado.

No passado, ainda procurando cumprir sua missão, Ablon chegou à cidade de Bahr Lut, que tinha acabado de ser arrasada por uma matilha de shedus, anjos com forma de leões. O líder deles afirmou estarem a mando de Miguel, o que Ablon duvidou. Eles se enfrentaram em duelo, e o serafim saiu-se vencedor, porém, foi cercado pela matilha. Antes que a luta começasse, Inanna chegou para ajudar. Juntos, eles derrotaram toda a matilha, mas Inanna ficou bastante ferida. Ela contou a Ablon que foi enviada por Orion, e que este descobriu a localização de Metatron: ele estava no pólo magnético do planeta. Ablon a deixou recuperando-se e voou para lá, não tendo dificuldades para encontrá-lo. Eles conversam brevemente, porém, quando se preparam para lutar, Metatron se vira e voa para longe.

Quando chegam ao Hades, Kaira e seu time, são recepcionados por Cerberus, que leva apenas a arconte até Metatron. Inanna, Yaga e Urakin ficam de fora, e Cerberus ordena que Minos e seu exército acabem com eles. Vendo que não terão chance de vitória, Urakin resolve desafiar o próprio Minos para um duelo, na esperança de que, caso vença, desmoralize suas tropas. Enquanto isso, no palácio, Metatron também tenta convencer a Kaira de que na verdade ele é quem a guiou em sua missão, porém com dois detalhes a mais: ele foi o responsável pela perda de memória dela, e, assim como ele, ela também era uma dos primeiros anjos, uma sentinela!

Enquanto Minos e Urakin lutavam, com vantagem para o filho de Zeus, por conta do seu escudo mágico (lembrei-me do escudo do cavaleiro Eric, de novo um personagem da Caverna do Dragão), Metatron levou Kaira até o aprisionado Denyel. Ele pediu novamente a ela que se juntasse à sua causa, e ela mais uma vez recusou. Por isso, Metatron ordenou que Cerberus cuidasse dela, e neste momento foi revelado que ele era na verdade o demônio Sirith, responsável pelas mortes de Levih e Ismael. Ele tem o poder de absorver a aparência, as lembranças e as habilidades de suas vítimas, e era assim que se passava por Ismael.

Caverna do Dragão - Cavaleiro
Caverna do Dragão – Cavaleiro

De volta novamente ao período antediluviano, Ablon luta contra Metatron, mas fica claro que ele não é páreo para o anjo mais velho. Metatron diz a ele que se renderá, se Ablon conseguir ao menos tocá-lo. Eles lutam, mas apenas Metatron tem sucesso ao aplicar seus golpes. Rendido no chão, Ablon finalmente consegue atingir o adversário com um autêntico shoryuken, o famoso golpe dos personagens Ken e Ryu no jogo de luta Street Fighter. Mas Metatron não cumpriu sua palavra, e eles continuaram lutando até que Ablon foi derrotado. Antes que Metatron tivesse a oportunidade de aplicar o golpe final, contudo, foi interrompido pela chegada da renascida Ishtar. Ele a dominou com facilidade, e a matou cruelmente, provocando uma forte reação em Ablon. O querubim reuniu forças que nem sabia que tinha, e atingiu Metatron como um míssil, derrotando-o. O primeiro anjo por fim rendeu-se, aceitando ser levado cativo, mas revelou que na verdade Ishtar estava viva, sua morte tinha sido uma ilusão. Tudo ocorreu conforme ele planejou, pois sua intenção era transformar Ablon de um mero soldado em herói.

Street Fighter - Ken e o shoryuken
Street Fighter – Ken e o shoryuken

No momento em que Sirith preparava-se para matar Kaira e absorver sua essência, ele foi dominado pela consciência de Ismael. Ele deixou-se ser absorvido pelo demônio exatamente para este momento, e contou a Kaira que ali, no núcleo da Terra e próximo à Hélios, o “sol” interior, era o local onde ela era mais poderosa, pois poderia absorver o poder deste astro. Quando Sirith recuperou o controle, usando o poder sugerido Kaira transformou-se em pura energia vulcânica, incinerou o demônio e voltou-se para Metatron. Porém, usando gases cósmicos, ele a prendeu em um esquife de gelo que nem mesmo usando o poder de Hélios ela conseguiria derreter – mas é claro que ela, por fim, conseguiu. A destruição do esquife abriu o chão sob eles, e ambos caíram no abismo de Lethe, em direção a Hélios.

De volta ao duelo do lado de fora, quando Urakin está prestes a ser derrotado e morto, ele é salvo pela inesperada chegada de Sif, um batalhão de valquírias e o Mjölnir, que ele prontamente usou para virar a luta a seu favor. Urakin conseguiu tirar o escudo de Minos, e, no chão, o rei resolveu render-se. Revoltada pela covardia, Brunhildr o matou, e as valquírias derrotaram os seus mirmidões. Yaga e Inanna aproveitaram a distração da batalha para tentar adentrar o palácio de Metatron, mas a filha de Lúcifer é impedida por Radamanthys, o irmão de Minos, que a desafia. Nenhum dos dois sobreviveu, mas Inanna ainda conseguiu entrar no castelo a tempo de salvar Yaga, que Sophia tinha sob a mira da Beretta de Denyel.

Mas Sophia ainda não estava derrotada, e tinha como trunfo o acordo dela com Denyel, que fazia com que qualquer ferimento que ela recebesse fosse transferido para ele. O próprio Denyel resolveu o impasse: ele conseguiu libertar-se, e usando a Beretta que Sophia deixara cair atirou no coração dela, ferimento que foi instantaneamente transferido para si. Ele morreu no momento em que Urakin entrava com Sif, enquanto que Yaga não perdeu tempo e matou também a Sophia.

No abismo de Lethe, Kaira e Metatron tiveram enfim o confronto definitivo. Ela atacou com o plasma extraído do Hélios, e ele revidou com éter, a matéria escura do vácuo do espaço. O encontro das duas rajadas provocou uma explosão silenciosa, que atordoou a ambos. Metatron recuperou-se mais rapidamente, e partiu para cima de Kaira para executá-la. Contudo, antes de fazê-lo, percebeu que ela estava grávida. Sendo uma sentinela e portanto tendo uma alma, ela era capaz de conceber, ao contrário dos anjos. Então Metatron, incapaz de tirar uma vida de um inocente, desistiu e entregou-se. Kaira não perdeu tempo, tomou-lhe a lança de Nod e a encravou diretamente no coração dele.

Com o fim do até então invencível Primeiro Anjo, sua fortaleza também se desfez, e iniciou sua queda até abismo de Lethe. Pensando que Denyel ainda encontrava-se preso lá dentro, Kaira voou até lá, e encontrou os amigos rodeando-o enquanto ele dava os últimos suspiros. Emocionada, ela ouviu Denyel contar como agiu contra sua própria natureza para ajudá-la em sua tarefa. Ele também contou que já sabia do feto em seu ventre, fruto do amor de ambos. Eles se despediram com um último beijo, e Denyel morreu em seus braços.

Ainda faltava uma última tarefa, destruir a lança de Nod, e Yaga incumbiu-se dela, aproveitando-se da distração de Kaira para surrupiá-la. Suas ordens eram de levar a lança a Miguel, mas ao perceber que isto provocaria um desequilíbrio na disputa entre este e Gabriel, ela mudou de ideia. Usando sua habilidade de se desmaterializar, ela levou a lança até o núcleo de Hélios, destruindo-a, mas também sacrificando-se. Reunidos os sobreviventes, Sif convocou a Bifrost, e todos foram para Asgard.

Kaira e Urakin decidiram fixar residência na morada dos deuses nórdicos, e se afastaram da disputas celestes. Kaira deu a luz uma menina, que chamou de Rachel. Urakin, por sua vez, pretendia pedir a mão de Sif em casamento, mas antes que pudesse a própria rainha manifestou-se, recusando. Ela propôs a ele que se casasse com Brunhildr, e ele aceitou. Por fim, meses depois, Kaira recebeu uma visita inesperada de Gabriel. Ela pensou que ele vinha puni-la, mas na verdade a intenção dele era designar a ela uma nova missão, a de percorrer o plano etéreo como uma diplomata, forjando alianças com os deuses antigos, o que ela aceitou. No epílogo, Lúcifer e Miguel conversam sobre seus planos, que levaram a história de A Batalha do Apocalipse.

*** FIM DOS SPOILERS ***

Com uma narrativa épica e um texto muito bem desenvolvido, Paraíso Perdido fecha com chave de ouro a saga angélica do autor. Eu senti uma pequena queda de qualidade no livro 1, Herdeiros de Atlântida, quando o autor deixou um pouco de lado o texto didático do A Batalha do Apocalipse. Este tom de professor contando uma história voltou no livro 2, Anjos da Morte, e foi intensificado mais ainda neste último volume, que é o melhor dos três, sem dúvida.

Além das referências à cultura nerd que citei nesta resenha, tenho certeza de que existem muitas mais. Quase consegui ver alguma coisa de Cavaleiros do Zodíaco ou Dragon Ball, mas não sou um entendido do assunto quando se trata de animes ou mangás, e não consegui identificar. Se você encontrou outras referências, por favor poste nos comentários.

A edição, apesar de muito bonita, não tem nada a se destacar, além de um papel de gramatura alta e ligeiramente amarelado, agradável de se ler. Não encontrei falhas de revisão. O final inclui uma cronologia oficial de toda a saga e um guia de personagens, utilissimos para guiar o leitor em uma saga tão longa. Recomendo fortemente a leitura dos quatro livros, pela ordem de publicação, ou seja, começando pelo A Batalha do Apocalipse. Apesar da trilogia Filhos do Éden ser um prelúdio, ela tem spoilers que estragariam a experiência do leitor.

Nota do Vini: 9 / 10 😃

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