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[Resenha] Júlia vol. 1 – Os Olhos do Abismo (Bonelli / Mythos)

Sinopse da editora:

“Conheça Júlia, a criminóloga. Elegante. Inteligente. Corajosa. Muito bem-humorada. Histórias escritas por Giancarlo Berardi, o roteirista criador de Ken Parker, com 132 páginas recheadas de mistério e suspense numa nobre edição em formato italiano. OS OLHOS DO ABISMO Em sua aventura de estreia, ela tentará decifrar uma série de crimes que estão acontecendo em sua cidade, Garden City. Aventura simplesmente arrepiante, apresentando um personagem que está destinado a ser uma das maiores vilãs das histórias em quadrinhos de todos os tempos!”

Ficha técnica:

  • Formato 16 x 21 cm
  • Capa cartão
  • Lombada quadrada
  • 260 páginas
  • Data de publicação: outubro de 2019

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Antes de prosseguir com a resenha, preciso fazer um esclarecimento. Minha esposa viu esta HQ na pequena pilha de leituras que mantenho na mesa de cabeceira, e achou que era um daqueles livros de romance para meninas adolescentes com o mesmo nome. Trata-se de uma publicação totalmente diferente, que conta as aventuras da Dra. Júlia Kendall, professora universitária de criminologia que também trabalha para a procuradoria da cidade fictícia de Garden City, e ajuda a polícia a elucidar os crimes mais terríveis. Para evitar esta confusão, a série vendida em bancas trocou de nome para “J. Kendall – Aventuras de uma Criminóloga” a partir da edição 5 (confira no Guia dos Quadrinhos).

As histórias da Júlia são um fumetti, como são chamados os quadrinhos na Itália, publicado desde 1998 pela Sergio Bonelli Editore, a casa do herói de faroeste mais famoso do Brasil, o Tex, além de vários outros personagens também publicados por aqui. Como esta série é vendida exclusivamente pela internet, e provavelmente também pelo fato dos livros citados no parágrafo anterior não serem mais publicados, a editora Mythos optou por manter o título original.

Este volume 1 reinicia a publicação das histórias da Júlia no formato italiano original e com uma história por edição, em ordem cronológica, com a primeira aventura da criminóloga. A primeira série brasileira, que reúne duas histórias por edição, continua sendo publicada pela Mythos, e está atualmente no número 147. A editora não divulgou se pretende republicar todo o material que já saiu no Brasil, mas espero que tenha vida longa (e próspera, como diria um certo vulcano), pois o material é excelente, e merece conquistar muito mais leitores.

Cuidado: alerta de spoiler!
Cuidado: alerta de spoiler!

Os parágrafos a seguir revelam pontos importantes da história. Leia por sua conta e risco!

A história dá a entender que Júlia trabalhava com a procuradoria e a polícia anteriormente, mas encerrou a parceria ao se ferir gravemente em um caso, fato pelo qual culpa o ambicioso procurador. 

Enquanto se preocupa com o excesso de liberdades criativas de um programa de TV que está sendo produzido sobre sua vida, Júlia busca na oficina o seu problemático e característico carro, um elegante Morgan 1967 conversível. Após sua aula na universidade, uma aluna a aborda querendo conversar, mas ela pede para adiarem para o dia seguinte, pois teria um compromisso naquele instante.

Já voltando para casa, Júlia é abordada pelo procurador, que pede que ela volte a trabalhar com ele para ajudar em uma investigação da polícia. Duas vítimas foram encontradas, com os corpos terrivelmente mutilados. Júlia nega com veemência, mas muda de ideia ao ser informada que uma terceira vítima foi encontrada, assassinada com a mesma crueldade que as anteriores: a aluna que queria conversar com ela.

Júlia se encontra com o tenente Allan Webb, com que ela tem uma relação conturbada de amizade por causa dos pontos de vista diametralmente opostos. Como ela mesma escreve em seu diário, Webb e a polícia consideram o criminoso somente como alguém culpado por um crime, enquanto que para ela o criminoso é, também, uma vítima. A violência, para ela, é sempre fruto de outra violência. E descobrir as motivações do criminoso a leva por caminhos investigativos que divergem dos métodos usados pela polícia.

Cabe ressaltar aqui que o fato de acreditar que o criminoso seja também uma vítima não leva Júlia a inocentá-lo ou a relevar o ato cometido. É apenas uma linha de raciocínio mais abrangente, fruto do seu método investigativo. Para ela, o culpado é o culpado, e deve ser levado à justiça e pagar por seus crimes conforme previsto na lei.

A criminóloga começa sua investigação entrevistando os parentes e amigos da vítima, levantando questões que não foram feitas pelos detetives da polícia. Ela conversa também com o gângster “Bear” Bill Drummond, cafetão da primeira vítima, no perigoso bairro em que ele atua. Após a conversa, ela é abordada por bandidos, e salva por seu grande amigo e investigador particular Leo Baxter, com quem ela mantém um bonito relacionamento fraternal.

Juntos, Júlia e Leo chegam a dois suspeitos principais: o pai da sua aluna e o zelador do ginásio da universidade, um ex-pastor protestante que, aparentemente, trata a filha com violência. Após chegar em casa, revendo os arquivos do caso, Júlia consegue deduzir quem é o assassino, e liga para Léo pedindo que ele a ajude a invadir a casa do zelador em busca de provas. Webb, que ouviu a conversa através de uma escuta no telefone de Júlia, vai também para a casa do zelador com os outros policiais.

Enquanto Júlia vasculha a casa e encontra fotos incriminadoras das vítimas, a polícia cerca a casa. São recebidos na porta pelo zelador, que na confusão acaba baleado. Enquanto isso, dentro da casa, Júlia confronta o verdadeiro criminoso: a filha do zelador, Myrna Harrod! Aproveitando-se da confusão com seu pai na porta, Myrna foge pelos fundos, matando um policial que estava de guarda. A história continua no próximo volume.

*** FIM DOS SPOILERS ***

Esta primeira edição é excelente para apresentar a personagem a novos leitores, ao já mostrar quase todos os elementos que vão se tornar comuns nas aventuras da Júlia: seus amigos, sua rotina, o hábito de escrever no diário e os constantes pesadelos, que muitas vezes a ajudam a elucidar os casos. Também mostra a origem de Myrna, a sociopata que vai se tornar a principal inimiga de Júlia, sendo presa e fugindo diversas vezes.

A história flui muito bem, em um ritmo calmo mas sem ser tedioso. O recurso de contar parte da narrativa usando o diário da própria Júlia é brilhante, ao nos colocar dentro da mente da criminóloga. Não encontrei erros de revisão, porém tenho uma reclamação quanto à arte. Ela parece serrilhada, como se tivesse sido ampliada e tenha tido perda de qualidade. O que é estranho, já que edição foi produzida no formato original italiano.

Por fim, se ainda não ficou claro, esta é uma das minha séries preferidas atualmente. Recomendo fortemente para fãs de mistérios policiais, como os clássicos Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle, e os livros da nossa eterna rainha do crime, Agatha Christie. Também é uma ótima recomendação para leitores já adultos que queiram iniciar no mundo dos quadrinhos, principalmente por mostrar que esta mídia incrível não se resume a mangás, Turma da Mônica e super-heróis.

Nota do Vini: 9 / 10 😀

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